Este conto foi criado para a Yume (ou Lissa), a imagem de capa é de acordo com o que eu li, a estrada que liga Amazônia ao Peru. Agora vamos ao conto:
A ESTRADA DO PARAÍSO

Eu podia estar sonhando naquele momento, talvez em pouco tempo eu iria acordar como em todos os momentos bons que eu acho que são reais, mas se for pensar assim, tem aqueles sonhos que eu espero acordar e não acordo, pois no fim notei que era real, esse era um momento desses.
O carro parou a 7 metros da ponta do penhasco, tivemos de passar pela cerca que nos bloqueava, eu tinha medo de altura, mas agora isto não importava mais para mim. Sai do carro empurrando a porta com calma, ela saiu também. Na verdade estava um pouco frio, o vento gelado estava passando pela minha pele, ela disse:
- Vá em frente !
Na verdade eu queria entrar no carro e sair de lá, sem cerimônias e nenhum tipo de discurso, mas quem seria eu se não o fizesse ? Juntei a pouca coragem que me restava e tirei minha jaqueta, o vento praticamente congelou meus braços e ela me olhou como se falasse: "Você tem todo o tempo do mundo, mas o mundo não tem mais tempo", então se eu não queria ficar lá para sempre eu seguiria e diria tudo o que eu tinha para dizer.
Meus passos foram estranhos até a beira, meu tênis que praticamente deixava a sola do meu pé reto parecia não existir, então se era para fazer do modo que eu queria eu os tirei, meia e tênis, deixando o pé nu em pedras e na grama, a sensação que ia cair diminuiu. Caminhei até a ponta olhando apenas para frente, para baixo parecia que eu iria cair e para cima eu não saberia o momento que tudo ia acabar, eu sabia exatamente a hora que deveria parar de andar. E em fim, olhei para baixo e disse:
- Eu não acredito !
Parecia que o que estava abaixo de mim iria se romper a qualquer momento e eu estaria em queda livre em direção ao chão, a quantos metros eu estava agora ? Arvores e arvores comprimiam minha visão, fazendo com que eu notasse que eu estava tão alto que se caísse iria demorar para que eu avistasse a primeira de perto. Minhas pernas ainda estavam tremendo, ouvi atrás de mim:
- Você não queria dizer algo ? - Dizia ela, comendo um chocolate que deve ter guardado no bolso. - Eu não sei, só se quiser.
Olhei para longe, eu sabia exatamente o que eu queria dizer, eu iria gritar sabendo que ninguém iria me ouvir, mas eu não ligava, era meu ritual sagrado para o fim de uma vida e o início de outra. Eu coloquei as mãos a frente de mim e estendi os braços, estavam um pouco menos magros mas ainda com aquele defeito que fazia com que parecessem quebrados, e logo coloquei na boca e gritei:
- Vocês, eu estou indo embora. - No início me senti um pouco estranho, logo as palavras certas começaram a brotar de minha boca. - Eu vou partir, não liguem, é o que eu sempre desejei. Não importa o quanto de dinheiro consigam, o quanto subam e quem desejam partilhar sua vida, eu não vou saber disso, pois estou partindo, briguem pelos seus bens, estou a caminho do paraíso !
Eu queria falar muito mais, qual seriam as tais palavras que deveria escolher ? Eu não criei um papel com um discurso nem nada do gênero, eu apenas deveria dizer:
- Tanto faz a faculdade que desejam cursar, medicina ou arte, advocacia ou robótica, isto não importa mais, eu fiz a faculdade para acabar com tudo isso, e finalmente acabou. - Era meu último momento ali. - Vocês podem se casar, trabalhar até morrer e construírem seus lares, eu vou viver e morrer, porém, minha vida terá valido a pena.
Me virei destinado a ir embora, ela me olhou e disse:
- Não quer finalizar ?!
De volta a ponta me sentei e disse baixo, a mim mesmo, com os pés suspensos no ar e um medo de me mover e cair:
- Eu vivi todo esse tempo com memórias, pois os momentos bons não aconteciam sempre, vinham com o tempo ou de repente, e essas memórias foram destruídas aos poucos, eu fui por muito tempo só mais alguém a ser superado, acho que pouca gente realmente se importou comigo, me destruíam e pediam desculpas, mas meu coração já estava quebrado, não importa, eu vou embora, viver as memórias. Eu finalmente vou ter meu paraíso ao qual esperei todos esses anos, acabei o colégio e a faculdade, eram o que todos queriam ? Agora é minha vez de fazer algo que eu quero... - E em último momento gritei. - Eu desisto de tudo que construí, tudo isso apenas para não desistir de MIM !
Entrei no carro e enquanto ela entrava eu perguntei:
- Não quer dizer nada ?
- Eu já disse demais... Não preciso dizer mais nada...
Ela ligou o carro e engoliu rapidamente o resto do chocolate, colocou um cd que começou a tocar: Wish you were here, do Pink Floyd, e assim seguimos. Agora estávamos atravessando o país rumo a Amazônia, e pegaríamos a estrada que liga ao Peru, claro que ia ser só o início, Himalaia, Alasca, Caribe e qualquer outro lugar que viesse a mente, tínhamos um ao outro agora, e finalmente estávamos realizando o nosso sonho, o que esperamos a vida toda, e isso era viver !
"Temos mesmo de levar esse gato ?"
Eu perguntei.
"É claro, ele ainda é um filhote e vai nos seguir"
"Qual o nome ?"
"O nome é..."
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