A vida em palavras: Medos de Infância

   Se eu perguntar para vocês coisas boas e engraçadas feitas na infância, é provável que tenham muitas histórias a contar, e falem que estão com saudades daquele tempo, pelo menos com boa parte é assim. Posso contar muitas coisas boas, por exemplo: Primeira namorada, brinquedos, amizades (algumas eu desejaria não rever e ficar apenas com memórias do passado), realizações, sonhos, gangues (essa é uma longa história), e medos... Ok, talvez essa última parte não seja tão boa...
   Afinal, não é só de boas coisas que é feito o passado, pois daqui a alguns instantes tudo isso que te causa problemas vai virar apenas parte de sua memória, seja ela forte ou falha, e talvez você diga o de sempre: "Sinto falta do passado", sendo que neste passado ao qual sente falta e tanto fala, você tinha as mesmas velhas preocupações e citava essa frase como um bom dia, todas as manhãs, todas as tardes e todas as noites... Estamos acostumados com isso.
   Mas continuando, os medos... Alguns medos que fizeram parte de minha infância permanecem até hoje, como o meu assombro em relação a altura (Yume disse que isso ainda vai me matar, é melhor fazer alguma coisa a respeito antes que eu perca mesmo minha vida), ele permanece até hoje e quando criança eu começava a gritar, chorar, andar lento e me segurar em tudo, inclusive nas pessoas que por sua vez, reclamavam, eu acho que até cantava. Porém, ao passar do tempo eu lidei melhor com a situação, indo em brinquedos alto de parque de diversões, caminhando na beirada de varandas e subindo e descendo escadas correndo, tropeçando e sem preocupações, claro, o medo ainda me persegue, eu não toparia pular de uma prédio só com uma corda amarrada no pé por exemplo.
   Outro medo, que me perseguia era o medo do escuro, medo da solidão, o pânico fazia com que eu adormecesse todas as noites no sofá da sala e acordasse em minha cama (berço), isto eu me lembro, porém, ao passar do tempo deixei isso para trás e nem ligo, ando iluminando tudo apenas com a luz do celular e as vezes cegamente pelo corredor ou meu quarto, até de madrugada jogando Silent Hill para celular (um nokia), convivendo com as bizarrices do mundo e aquelas as quais pessoas criam em suas mentes, que não demoram muito para existirem nas mentes de outras.
   Quanto a solidão, eu não tinha medo de ficar perdido e sem rumo em algum lugar, sozinho, meu medo era ficar sozinho em casa. Meus medos eram do paranormal, não que algum bandido invadisse a casa e me matasse a sangue frio, e sim, que um fantasma se aproveitasse da situação e resolvesse: vou lhe assombrar, é apenas uma criança fácil de se convencer e assustar. Porém, esse medo chegava a níveis de eu imaginar coisas, passos dentro de casa, ver coisas que não existem e coisas do tipo. E agora ? Eu nem me importo. Gosto de ficar sozinho ouvindo música alto e lendo creepypastas (estas ficam bem mais divertidas quando você pode sentir um pouco da tensão, sem alguém lhe fazendo perguntas e lhe mandando fazer as coisas, que sozinho você faz mas não nos horários demarcados), mas uma vez ou outra volta a sensação de infância.
   Já teve medo de algum monstro de filme ? Lembro o desespero que senti quando criança vendo Malditas Aranhas, gritando, reclamando, xingando elas de malditas, ou ver Greemillins. Mas talvez uma que me assustou de verdade fora Samara, a garotinha do chamado. Um medo irracional de um filme que não dá medo a ninguém ? Sim, mas  vale lembrar que na época  eu não tinha visto filme, apenas tinha medo de sua imagem, uma garota de cabelos escorridos saindo do poço, um pequeno buraco cheio de água por mais pequeno que fosse dava início a minha apreensão, o que poderia ser depois ? Tinha medo até do ralo, quando a água escorria e fazia uns barulhos estranhos, e formatos de olhos que me observavam das profundezas.
   Agora vou contar medos do colégio, acho que na terceira série existia uma casa ao lado de uma ladeira que subíamos, essa casa e a ladeira eram separadas apenas pela grade do colégio, dando para ver perfeitamente  o quintal, subíamos lá para lanchar sem ninguém pedindo (fora outras várias crianças que também ficavam lá) e brincando na grande pedra, ao qual era imensa, mesmo agora que cresci, é bem, quanto a crescer... Porém, aquela casa assombrava e ficávamos criando várias teorias sobre o lugar, que era abandonado ou assombrado, alguns dois mais corajosos ficavam lá perto fitando a porta e janelas, aos poucos achamos que estava abandonada, mesmo no ótimo estado que se encontrava. Claro, um dia eu fiz a grande burrice de gritar:
- APAREÇA SE FOR CAPAZ !!!
   E o que eu esperava ?! Realmente apareceu, uma mulher com cara de mal humorada perguntando o que a gente queria, eu ia tentar explicar toda a história e tal, isso se o resto da turma não tivesse corrido em direção as colinas e por causa disso, minha reação também foi correr. E depois eles ficaram dizendo:
- Você estragou tudo gritando...
- Ué, pelo menos eu resolvi o mistério...
   Ou pelo pré ou primeira série, não lembro, quando eu tinha 5 ou 6 anos que ouvia uma lenda que percorria o colégio, uma área em que ninguém passava, um caminho para uma área vazia a uma quadra lá embaixo, sem precisar subir um barranco, andar bastante e descer uma escada gigante. Havia variações da lenda, que por aquele lugar que ninguém passava  por puro medo havia um cemitério, outros diziam que tinha uma bruxa... Olha, para ser sincero eu acho que tinha mais probabilidade de ter algo assim no banheiro dos meninos que naquele cantinho esquecido, sério mesmo, aquele banheiro era longo, escuro e assombroso, até agora acho que tem algo lá, tipo uma maldição, fantasma ou a bolha assassina. Onde foi que eu parei ?! Ah sim, naquele canto esquecido e abandonado, a história me deixava tão curioso que eu me coloquei a prova, passei por lá e o que eu vi ? Nada, exatamente nada... Apenas um espaço vazio e mato atrás da cerca da escola, por um segundo eu senti satisfação da coragem, no outro alívio de não ser transformado em uma mosca e depois decepção, esperei tanto para ver aquilo ?
  Eu não sei a onde queria chegar ao escrever esse texto, obviamente queria contar histórias, medos e passados e de uma certa forma, até sinto saudades, quando meus medos eram monstros e fantasmas, não acontecimentos e pessoas...

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