Livro - Parte 2

 





   Eu quero começar dizendo que o Capítulo 1  para mim não trouxe satisfação alguma, achei fraco e um péssimo início para a história, com toda a certeza não era nisso que eu pensava quando criança. Lembrando desta história lembro que antigamente tinha planos para que se tornasse uma triologia como muitas das minhas histórias antigas, inclusive tentando encontrar o material original de Livro em minha primeira pasta na computador eu não achei (pois me recordava de ter excluído a muito tempo atrás), porém, encontrei uma coleção de ideias pra histórias que guardava a muito tempo, planejando as criar algum dia. Então vamos logo a história, lembre de ouvir a música durante o capítulo e veja o Gif que deu origem a nossa capa.








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   Por algum motivo, eu queria muito abrir aquele livro. O dia passou rapidamente como todos os sábados, minha mãe descobriu sobre o incêndio logo depois na televisão, reagi como se fosse algo completamente novo para mim. Agora estava deitado na escuridão com meus olhos bem abertos em procura do livro, a vontade fez com que aquilo se tornasse o maior de todos os meus desejos, assim eu me levantei da cama e liguei o abajur na minha cômoda, abrindo aos poucos o livro de capa dura totalmente azul, ao abrir entrei em uma total confusão.

   Na primeira página esperando que houvesse um texto de apresentação, agradecimentos ou algo obscuro eu não encontrei nada do achava que estaria lá, tudo que eu achei foi um desenho que parecia ter sido traçado a lápis, riscos e riscos demonstrando a perfeição de algo que parecia imitar uma foto, com um homem de cabelos curtos e obviamente seu maior sorriso, trajava um terno que pelo lápis demonstrava cores claras, logo abaixo do desenho estava escrito: "Você logo vai voltar para casa, Gabriel", assim reconheci o homem da imagem, não tinha nenhuma explicação, eu deveria entrar em choque ou estar feliz ? Era meu pai, e meu nome é Gabriel.

   Eu estava lhe vendo novamente nas páginas de um livro, o livro que veio das cinzas e que agora estava em minhas mãos, eu não deveria o devolver. Afinal, como eles teriam uma imagem do meu pai tão bem feita ? Era impossível, nem eu tinha muitas fotos ainda para guardar como lembrança. Eu parecia estar sonhando de novo e lutei contra mim mesmo para virar a próxima página.

   Quando meus dedos conseguiram apertar a ponta da página eu virei, uma em branco e outra com um novo desenho, desta vez aparecia minha mãe como ela está agora, tudo bem feito a lápis, porém, estava sorrindo e com um vestido de festa, inclusive seu colar de pérolas lhe caiu muito bem, mas na mesma imagem tinha algo que eu não gostava, um homem com o braço envolto na cintura dela e vestido com um belo terno escuro, seu sorriso não me agradava e seus cabelos bem arrumados o pareciam deixar chato, o óculos pareciam fazer de seus olhos mais estranhos, mas o que eu não gostei daquilo fora que ele estava com minha mãe.

   Não tendo nada escrito embaixo da imagem eu virei pra próxima página, estava cansado daquela e não queria olhar por muito mais tempo, a próxima imagem era apenas um desenho de algo que aos poucos eu fui compreendendo melhor. Uma imagem representando o piano onde meu pai tocava, ao ver ele logo pude sentir Sonata Moonlight caminhando pelo ar, mas tinha um problema, o piano estava em chamas, e logo abaixo estava escrito: "Alguém vai me encontrar ?". Aquilo fez com que pequenas lágrimas caíssem descendo pelas minhas bochechas, aquilo me perturbou mais que tudo, agora a última parte viva do meu pai que se perdeu de mim, estava sendo queimada para sempre junto com sua alma, eu não queria aquilo, eu precisava que mesmo longe de mim aquele piano estivesse inteiro para sempre !

   Ouvi atrás de mim uma voz dizer:

- Não é um pouco tarde ? - Minha mãe estava na porta, um pouco pálida e cansada. - Você deveria estar dormindo...

- É que amanhã é domingo... - Eu disse rapidamente como uma desculpa, percebi que ela não notou o livro. - Eu só não estou com sono.

- De qualquer modo, vá logo pra cama...

   Ela se virou para ir embora e eu desliguei a luz do abajur e continuei lá sentado, quando achei que ela estava na cama dela eu religuei e virei para a próxima página do livro, estava em branco com um imenso espaço vazio, todas as próximas páginas estavam assim, apenas mais folhas que deviam sem preenchidas com algo, eu não tinha ideia do que desenhar ou escrever nelas, pois isso bastante assustado fechei o livro, desliguei a luz e me deitei na cama imaginando possíveis explicações.


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    Outro pesadelo tomou conta de minha mente durante a noite, neste não tinha meu pai, nem minha mãe ou Beto, meu antigo cachorro, porém, eu não estava sozinho.

    Na casa em que eu estava eu via as pessoas chorando e dizendo:

- Você vai conseguir...

    Eu conseguia enxergar apenas as pessoas e ouvir as vozes, pois o resto da casa estava distorcida e o resto dos sons fora vozes passavam despercebidos, o único som que eu ouvi fora as vozes me envolveu novamente, mas agora não me dava um tom alegre e de saudade, mas de medo e apreensão, sim, aquela música, as pessoas pareciam tristes e angustiadas. Uma mulher de cabelos loiros e enrolados que parecia uma princesa gritou:

- Por favor, pare com isso...

     Ela estava abaixada sobre um homem, ele estava sangrando e eu podia ouvir todos chorando, ele parecia não estar mais lá e muito distante, como se a dor não existisse e estivesse indo embora, longe de todos. Eu ouvi gritos de um homem que sua imagem estava distorcida, não lhe reconheci:

- Já chega, se alguém gritar novamente também leva bala !

    Eu não podia fazer nada, mal ou bem sabia o que estava acontecendo ali, mas do mesmo jeito eu não conseguia nem me mover. Olhei todos e tudo foi ficando escuro, um medo crescente veio e Moonlight Sonata estava dançando para mim, eu queria pensar em algo, mas não conseguia, um looping repetitivo de pensamentos sobre meu pai me atingiu, ouvi uma voz baixa e feminina sussurrar nos meus ouvidos:

- Salve minha irmã, por favor, salve minha irmã e trarei seu pai de volta. - Eu não intendi o que queria dizer com aquilo, mas ela repetiu. - Salve ela, o nome dela é Emily, apenas a salve e eu deixarei você ver seu pai.

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   Acordei um pouco assustado depois de todo este sonho, olhei para o livro sobre minha mesa e ele continuava intocável desde a noite anterior. Saltei da cama abrindo a primeira página novamente, eu queria ver meu pai, pulei para a da minha mãe novamente e não quis ver a página do piano, pulei para a em branco decidido a logo depois fechar o livro, porém, ela não estava mais em branco.

   Naquela exata página estava uma imagem um tanto perturbadora, o desenho a lápis de um homem deitado no chão e algo saindo de dentro dele, como sua alma, uma cópia dele mesmo se separando de seu corpo imóvel no chão, eu paralisei, era o mesmo homem de meu sonho, aquele que provavelmente levou um tiro.

  Andei até o banheiro e lavei meu rosto, em seguida olhando para o espelho, eu estava realmente acabado, eu não entendia os motivos daquele sonho e aquele livro. A música foi tomando todo o ambiente, logo notei que ela não estava em minha cabeça, e sim em algum lugar da casa. Eu caminhei em direção a música, minha mãe tocava em um disco recém comprado Sonata Moonlight, sorridente por restaurar uma última parte de meu pai para mim, ela estava tão feliz, esperando que eu fosse sorrir e dançar com ela, mas aquela música estava me atormentando, eu peguei o disco negro rapidamente e o quebrei em mil partes. Eu me ajoelhei no chão respirando ofegante, assim vi ela, olhando para mim triste, chorando pelo que eu acabei de fazer.


 

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