Antes de começar devo dizer que me lembro de escrever essa história quando eu tinha uns 7 ou 8 anos, quando brincava criando histórias e as fantasiando, depois de um tempo eu gostava de escrever elas no meu computador, mesmo com minha péssima escrita na época todos sempre ficavam muito interessados nas histórias que eu criava, mas pensavam um pouco: "Ele nunca vai chegar a completar isso". Livro, na verdade foi escrito a muito tempo atrás e seu nome era: O livro, criada em uma destas brincadeiras que as crianças tem quando estão sozinhas, na verdade começou a partir da única lembrança de um dos meus sonhos: Eu com meu amigo Thomas (ao qual não sei como se encontra atualmente), estávamos de noite mexendo em um livro velho ao qual em uma das páginas podíamos ver um desenho de nossa professora, e ao canto um homem abaixado com uma faca. O sonho deu origem a uma de minhas histórias: Um livro que prevê tudo através de desenhos, só escrevia sempre o início, um garoto achando um livro enterrado perto de uma casa que acabara de pegar fogo, também já escrevi um prólogo sobre dois homens tentando descobrir a senha de uma porta antes que o mundo acabasse, porém, como não bateria muito com a história, nessa nova versão vou deixar sem este prólogo. A música abaixo é para ouvir enquanto lê a história:
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Livro - Parte 1
Sonhei com aquela música lenta envolvendo todos a minha volta, salvo ao meu cão, deitado no tapete novamente em um sono profundo, lembro que meu pai tocava ela na sala de estar até uns dois anos atrás, quando morreu e seu piano foi vendido pela minha mãe, eu chorei e gritei, não queria que ela fizesse isso, mas ela o vendeu sem ligar pela dor que me causava, era a única coisa que nós podíamos ter para lembrar dele. A música era Sonata Moonlight e ela parecia me pegar em seu colo e dizer: "Querido, tudo vai ficar bem novamente".
Neste sonho eu via todos dançando envolvidos um nos braços do outro, meu pai estava tocando com facilidade como sempre fez, minha mãe dançando lenta e com um sorriso estampado em sua face, ela não estava com o cabelo bagunçado e com tanto peso como estava desde que meu pai morreu, ela brilhava e estava bonita novamente, pois parecia se sentir assim. Eu estava feliz novamente enquanto a música se espalhava por todo o ambiente, sentei ao lado de meu cão e o acariciei, se chamava Beto, grande e branco, acompanhava rapidamente todas as pessoas com seus olhos rápidos e seu faro confuso pela quantidade de perfume que emanava no ar. Eu sorri aos poucos, eu queria estar ali para sempre, aquilo para mim era o paraíso. Foi quando ouvi sua voz fina e melodiosa dizendo em um looping que parecia eterno:
- Você tem de acordar !
Enquanto ela repetia milhões de vezes vi todos desaparecendo aos poucos, gritei pela minha mãe e meu pai mas ambos não me viram, primeiro foram todos os convidados do salão a sumir, depois eles e logo após isso, meu cachorro não estava mais lá, só sobrou eu e a música, enquanto a voz também desaparecia.
- Eu não quero acordar ! - Eu gritei, mas minha voz soou mais baixa do que eu esperava. - Eu não posso, eu não quero.
- Você não precisa chorar, querido, eu sempre vou estar com você. - Desta vez era a voz de meu pai que tomou conta de mim, ela fez meus olhos encherem de lágrimas e finalizou. - Não tenha medo, por favor, você é o homem da casa agora.
A voz de meu pai desapareceu e eu acordei, é claro, no fim de todos os sonhos eu sempre acordo. Limpei com o braço as lágrimas que tomavam conta de meus olhos e esperava minha mãe em meu quarto dizendo:
- Se acalme meu anjo, foi só um sonho, estamos todos bem agora.
Mas não, foi a mesma manhã lenta e desconfortável onde eu acordava em minha cama sozinho, tinha apenas nove anos e aquilo já era o suficientemente desconfortável para mim. Me levantei e fui até o banheiro, fiz o que tinha de fazer como todas as manhãs, entre elas eu adicionava o item que era esquecer o que sonhei e ter outro bom dia. Como em um sábado qualquer fui até a mesa e minha mãe não preparava o café da manhã, vi apenas a garrafa térmica e o saco de pão sobre a mesa, não algo tão atraente quanto ela fazendo algo especial e meu pai sorrindo como as manhãs que deixaram saudade, mas como ela não estava lá dava para saber que ela acordou mais cedo e comprou o pão, preparou o café e voltou a dormir, pois andava muito cansada desses dias de trabalho, mas fez por mim.
Peguei o que tinha na geladeira e passei no pão, retirei uma caneca e um pano do armário, me dirigi até a sala e lá fiquei vendo desenhos com o pano no colo enquanto tomava meu café matinal e comia pão com queijo (minha mãe não gostava que eu deixasse o sofá dela cheio de migalhas, por isso mandava eu pegar um pano). Minha mãe acordou tempo depois e viu que eu acabei de comer e logo foi me tirando a xícara e o pano para lavar e guardar, eu não quero falar muito, mas estava me parecendo péssima, seus olhos castanhos e alegres davam lugar a um olhar caído e triste, os cabelos negros e brilhantes agora estavam espalhados, ressecados e mal cuidados, sua pele estava seca dando um ar triste, ela me beijou o rosto e disse:
- Bom dia, filho !
- Bom dia... - Eu disse, percebi que o som da voz dela era triste. - Mãe, depois posso ir para a rua brincar um pouco com meus amigos ?
- Volte antes do almoço, tudo bem ?
- Tudo.
Ela me abraçou rapidamente e foi para a cozinha, onde na mesa de mármore serviu seu café da manhã, segui ela fazendo-lhe perguntar:
- Está tudo bem ?
- Sim. - Não estava, eu queria chorar e dizer o quanto sentia falta dela como era antes e do meu pai. - Só vim lhe ver...
- Vamos até a sala e eu acabamos de ver os desenhos, tudo bem ?
- Tudo bem...
Seguimos até a sala, ela se sentou no sofá e eu no tapete enquanto passava Capitão caverna, na verdade olhei para o canto da sala, não tinha mais nada do que um dia teve, lá sempre estava uma coberta velha e cortada onde o Beto dormia, agora não tinha mais nada, nem um rastro sequer dele para provar que um dia existiu. Minha mãe notou o tempo que fiquei olhando para aquele canto vazio parecendo estar totalmente distante, logo ela ligou as coisas e perguntou:
- Quer que eu lhe dê um novo cachorro ?
- Não, obrigado. - Desde que Beto morreu eu não tinha muita vontade de ter outro cão. - Eu estou bem...
Então me levantei rapidamente do tapete e disse para minha mãe:
- Então voltarei na hora do almoço...
E assim sai porta a fora, brincar um pouco caso um de meus amigos estivessem na rua, mas não vi nenhum correndo e chutando bola como havia de ser em todas as manhãs de sábado, estranhei a situação o tanto que peguei minha bicicleta e fui descendo a rua para ver se encontrava alguém, nenhuma outra criança estava na rua, tirando na última casa onde estava um deles ao qual não brincava muito, chutando uma bola contra o muro, desci da bicicleta e perguntei:
- Você sabe onde está todo mundo ?
- Soube de um incêndio, acho que todo mundo foi lá ver...
- Incêndio, onde ?
- Uma casa pegou fogo perto do mercadinho...
Eu pedalei rapidamente para lá, queria ver qual das casas pegou fogo e se todos realmente estavam lá. Acho que passei por várias casas pensativo, eu não era amigo de ninguém naquela rua e por isso não estava tão preocupado, só com um pouco de pena, perder todas suas coisas para o fogo deve ser triste e eu não me imaginaria assim. Passei pela parte da rua onde achei meu cão a noite depois de eu, meu pai e minha mãe procurarmos, ele estava sangrando e parecia muito doente, acho que ele fugiu pois não queria que nós olhássemos ele sofrer e não poder fazer nada, pois nós também iriamos sofrer. Finalmente cheguei a casa tomada por cinzas, a família chorava e tinha pessoas dando palavras de apoio, meu amigo, Marcos, se aproximou de mim e disse:
- Chegou agora ?
- Sim, alguém morreu ?
- Não, até onde eu sei não, mas tudo pegou fogo.
Eu vi que todos estavam com a família, e dentro do quintal perto da casa existia algo que não pegara fogo, era azul escuro e atrativo, sem mais nada, milhares de páginas, um livro. Olhei para Marcos e apontei para o livro, ele disse:
- Será que devemos o pegar ?
Antes que ele acabasse de perguntar eu já estava correndo com o livro debaixo do braço para entregar a família, foi um pouco difícil com todos na frente e logo disseram:
- Por favor, afaste um pouco...
Seria boa ideia entregar outro dia, então iria levar o livro para casa e os entregar outra hora, era isso que devia ser feito.
Continua...
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