Antes de começar devo dizer que este sonho que estou retratando aqui foi sinistro até mesmo para mim, não pelas mortes e crueldades, mas sim pelo motivo que eu me divertia com tudo aquilo, por qual motivo corvos ? Não sei, talvez pois eles sejam retratados como criaturas sombrias desde muito tempo atrás, desde as obras de Edgar.
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Fora absolvido por tudo a ponto que em breve não pagaria pelo passado, mesmo que o tal se colocasse em relevo na minha deslizante vida onde eu estava prestes a entrar em combustão, sentimento que patéticamente foi se diminuindo até que eu me tornasse frio o suficiente para não me importar, eu não tinha tudo extremamente calculado, mas fingia ter, deste modo eu me colocava como um humano genial sendo que a verdade eu era apenas soterrado por ondas e ondas do comum, me afogando em um mar psicodélico e mental. Quando tal disse:
- Ele não pode subitamente ser enviado a cadeia, ele não estava ciente do que estava fazendo.
- Preso é o que deveria, chega de assassinos sendo esculpidos como loucos.
- Ele não tem culpa...
Eu ouvia aquela conversa irritante e súbita que não me importava, na verdade pouco eu pensava no lugar ao qual iria chegar, tudo o que passava em minha mente era a canção Brain Damage do Pink Floyd travada na frase: O lunático está na grama. Eu me sentia completamente estranho, um homem ao qual todos decidiriam se o fim era uma cela abandonada no tempo com pessoas iguais a mim, ou um lugar solitário onde vozes ecoavam em nossas mentes. Eu me sentia incapaz de falar por mim mesmo e totalmente estúpido, tudo tinha perdido sua cor e estava obscuro, no fim eu sabia que só um dos meus dois lados poderia voar através das nuvens e entrar no paraíso.
- Então está decidido. - Eu não gostaria de ouvir uma última decisão. - O sujeito fora completamente alienado pelo seu interior, então não é capaz, deve ser enviado a tratamento e quando estiver melhor recolocado como um homem decente na sociedade.
Todos nós sabíamos que não existia uma cura, eu nunca ia sair das paredes brancas de um hospício que ia se desfazer com o tempo, porém, minha personalidade cruel e abusiva do sangue nunca chegaria a se decompor, aquilo que se infiltrou em minha mente agora se tornou uma parte de mim, não algo que simplesmente iria ser retirado a palavras belas, tratamentos cruéis e remédios forçados, vi várias vezes o mal corromper o bem, porém, raramente vi o bem corromper o mal.
- Se prepare, iremos lhe buscar hoje a tarde, voltara para casa e de lá, para sua clínica.
Em uma atitude idiota dele fui enviado para casa, onde mais tarde iria ser levado de lá para uma cela branca, a decisão mais absurda fora me deixar lá sozinho, não que eu fosse tentar fugir, mas como eu já fora pregado como mais uma absurda onda testemunhando a loucura, eu poderia levar tudo o que eu fiz adiante.
Não deveria sentar ali e esperar ser levado para todo e todo o sempre, realizar um pesadelo pessoal e dizer que estava tudo bem. Eu deveria aproveitar antes que tudo desmoronasse sobre minha mente ? Rindo de meus medos, por um segundo eu não tinha motivos ao qual me preocupar, no fim sorrir doía mais que viver chorando, estava decidido lavar minhas mãos com puro sangue, ir além dos momentos irrelevantes.
Andei na rua, entrei em casas e matei todos que me subestimaram:
- Saia daqui !
Todos diziam, lavados com seu próprio sangue, recebi meu pergaminho feito da mais puras das águas que correm pela ilusão, quando diziam que eu tinha talento com palavras nunca me disseram que esse talento também provia da morte, corpos agora eternamente vazios. É claro, quando o último dos meus odiadores fora derrubado no chão, se afogando em um líquido vermelho ressurgindo das veias desmanchadas, eu me sentei no sofá de casa esperando a hora que deveria ser levado, já tinham descobertos assim que seguraram pelos braços e me jogaram na sala ao qual ficaria confinado por muito tempo, não havia relógios ou calendários, apenas a mim e o som de meu coração, que ao passar dos dias não ouvi mais, como se subitamente parasse de bater.
Eu não sei quanto tempo eu fiquei olhando para as paredes brancas da sala, ficar comigo mesmo era o pior dos castigos. Eu não podia me machucar, não existia elixir que me livrasse da dança do fim. O pior pesadelo era que enfim eu revelei a face negra que de dentro subia nossa eterna escuridão.
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- Tomamos uma decisão...
Aquilo não ia me curar, descobri ao momento que eles discursavam sua decisão, fora mesmo bizarro ver que alguém ainda tinha esperanças em mim, o tempo passa tão rápido e as almas vão se quebrando tão fácil, nunca acreditei que o que vêm fácil se vai fácil, demorei em torno de nove meses para nascer e minha vida poderia se acabar a um passo, lutei para manter certas pessoas por perto que no fim me abandonariam sem olhar para trás, relativamente tudo se vai fácil nessa vida, inclusive quem eu fui algum dia de minha vida.
Quando eles estacionaram o carro em minha rua podia me ver relembrando os momentos que pensei serem felizes voltando, contudo, por cima existia sangue e vibrações revolucionárias que queriam me derreter. Eu queria ver o carreiro ao qual passava em meus retornos a casa, idiotas, eles acreditaram, onde um a um foram apunhalados por pedaços de vidros de uma garrafa quebrada que achei ao chão, eu não iria se libertar de qualquer forma, pois no fim seria levado de volta e esquecido.
Ao ver todos fechando as portas e janelas enquanto eu passava me deu um sádico prazer, agora eu que trazia o medo, ninguém me queria por perto, sempre fora assim, mesmo quando eu não trazia a dor, não eliminei nenhuma pessoa, elas estavam trancando suas almas a dentro de casa, se eu as quisesse mortas teria o feito a anos atrás quando fora ainda livre.
Entrando naquele pequeno espaço pude ver gatos com dentes afiados, corvos com olhos ameaçadores que se moviam como a escuridão, seus tentadores pensamentos quase não me levaram a ver o animal que rolava entre meus pés, a espera de bondade, esperando fidelidade recebida com todo o orgulho, eu poderia ter chorado e tentado os afastar enquanto gatos e corvos partiam para cima dele rasgando a sua carne e se alimentando de seu interior, com gritos esganiçados que pareciam ter o levado também muito de sua alma, animais também tem espíritos, porém, eu ri, me divertindo com a situação, sai e tranquei todos como em uma gaiola, nunca poderiam sair, antes eu disse com calma e meu sorriso sádico estampado em meu rosto:
- Vocês são loucos, completamente inúteis, atacam por prazer e não pensam no que vai acontecer. Eu sabia de tudo desde o princípio, tinha conciência de que seria preso, mas eu escolhi assim. Vocês acharam que não teria suas consequências, por isso eu sou um homem livre e vocês serão abandonados aqui para morrer.
Eu andei por aquelas ruas, sem me alimentar ou beber, sem descansar ou parar, sorrindo até o fim dos meus dias, és tu a alma do corvo, estridente alma do louco.
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