Na história do Livro a verdade é que o ponto principal ia se centrar não nos personagens nem neste lance de sonhos com uma música estranha, iria ser apenas em um Livro que prevê o futuro e só, com dois personagens correndo contra o tempo e salvando as pessoas da cidade, com todo aquele lance de sessão da tarde e os capítulos acabando incompletos, porém, eu queria algo novo e uma certa emoção na história, não um pirralho bancando o herói a história toda e depois virar a história pra ter algo complexo no fim, não queria isso.
Aqui a ideia que criei é se centrar no personagem e os mistérios que se passam, pois no fim eu simplesmente não planejo explicar tudo passo por passo para que entendam os motivos que tudo aconteceu, eu quero que criem suas próprias teorias, claro que talvez eu explique as minhas, agora vamos a história e como sempre, ouçam a música abaixo enquanto vão lendo a história.
Obs: Este capítulo fora totalmente reescrito, pois parecia seco e o rumo que tomaria não seria agradável.
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Você pode me perguntar se eu tive medo, a resposta é que eu nunca estive tão assustado. Eu poderia chorar mencionando a tamanha saudade que sentia de meu pai, entregar o livro as mãos de um responsável, por quais motivos eu seria culpado ? Nenhum, eu não tinha muito haver com o que estava acontecendo, mas naquele instante que tinha perdido o controle me senti culpado, tudo o que ela queria era por um instante sorrir comigo, ao quebrar aquele disco fora mais do que dinheiro jogado no lixo, com ele se foi um coração que tinha sua alma completamente partida, acho que eu entendo melhor disto agora. Eu não fazia a mínima ideia de quem era Emily e aquele mundo ao qual entrei me agarrava criando barreiras que me impediam de sair, abraçado ao canto de meu quarto com o livro em meus braços, por um momento ele não parecia mais sólido, voltando depois da onda de pensamentos que me fizeram quebrar a vibração que me mantinha desligado de todo o mundo. Minha mãe entrou em meu quarto, olhou no fundo de meus olhos, percebi que tinha secado todas suas lágrimas e tentava parecer timidamente responsável, mas nem eu entendia meus motivos, com palavras baixas ela disse:
- Você me deve uma boa explicação. - Se sentando na beirada da cama me observou, eu estava sentado no chão olhando para baixo. - O que aconteceu filho ? Você gostava tanto desta música.
- Eu não gosto mais, é isto... - Percebi o quão frias saíram minhas palavras, não justificavam a minha ira. - É que tive um sonho ruim com esta música...
- Um pesadelo ? - Ela pareceu mais interessada, como se esquecesse tudo aquilo. - Filho, você tem de aprender a separar o que é real e o que não é. Com o que você sonhou ?
- Eu sonhei com um homem sendo morto. - Sei que todos vocês esperavam que eu talvez mentisse, inventasse uma desculpa para não dizer aquilo exatamente, mas qual eram meus motivos ? - Neste sonho lembro de ver um homem com a arma apontada para ele, uma mulher chorava. No sonho tocava essa música
- Filho... - Levando a mão a boca ela disse. - Sonhos ruins acontecem, acho incomum deste tipo na sua idade, porém, não é motivo para você destruir o disco, paguei caro nele.
- Me desculpe...
Ela me abraçou e retornarmos ao que estávamos fazendo, em como toda boa manhã eu respirei ar puro novamente, queria que as vezes fosse tão compreensiva como estava sendo neste momento.
Naquela noite algo me chocou, talvez ao ligar a televisão e ver que em pouco tempo tenha ocorrido um assassinato, um homem fora morto com uma bala em seu peito, olhei mais de perto, ás vezes isso pode parecer algo comum, talvez a você seja incomum, mas coisas do passado tentam voltar de qualquer maneira, mesmo errado você tinha um pouco de razão, sim, é isso que você deve estar pensando, o homem morto que apareceu no noticiário era o mesmo que assombrou meus sonhos.
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Quando abri o livro na mesma noite vi outra coisa no livro, na próxima página. Não sei como descrever exatamente, uma garota sentada aparentemente pensando, tinha algo ou alguém a observando, como se fosse totalmente distante ou algo do tipo, de modo que não pertencesse a este plano, o nível terrestre. Seus cabelos pintados fortemente com o lápis estavam um pouco bagunçados mas dando um ar que aquilo fora proposital, pois foi feito de modo até artesanal. Ela estava sobre uma poltrona ao lado de uma janela, que por si só dava visão a um belo jardim que atrairia até mesmo os que não se interessam por coisas como essa, mas algo na imagem me incomodou, mais do que deveria para falar a verdade, de pé no jardim tinha um homem olhando diretamente para dentro do quarto onde ela se localizava, direto para ela sem fazer com que a mesma se desse conta. Passei os dedos pela página em busca de algo que pudesse me surpreender, mas a coisa mais interessante que achei fora um número de telefone e embaixo escrito: "Ligue para ela".
A propósito, eu não notei que a informação era para mim, pensei que fosse algo relacionado a uma previsão, como a última que o livro teve, aquela do homem morto, então não que fosse algo sendo indicado a mim. Então notei, a imagem de minha mãe, o piano, meu pai e aquela garota, tudo não passavam de previsões, coisas que iriam acontecer, isto me deixou tão feliz quanto triste, mas ao superar de tudo, me deixou confuso.
Virei para a próxima página, nada, outra página em branco a ser preenchida assustadoramente pelo vazio, aquele livro não ia me perdoar, sempre mostraria algo para eu fazer. Quando eu saberia o que significava ? De onde veio ? Viera para mim.
Sempre estas coisas que não posso mudar, o livro fora um erro, eu não devia ter o pego, mas não importa o quanto eu diga, sei que não vai resolver nada. Eu poderia salvar alguém com aquele livro, mas não conhecia a garota que ali demonstrava, uma adolescente, eu tinha nove anos. Fui até a sala já que minha mãe dormia e digitei aquele número em meu telefone, fora só apertar as teclas certas demonstradas na página.
Um toque, dois toques, no terceiro começei a pensar se eu não deveria deixar para lá, o que eu iria fazer ou dizer ? Não fazia ideia, então não queria continuar a cometer erros para resolver eles mais tarde, assim que iria desligar o telefone alguém disse:
- Alô !
Fiquei alguns segundos petreficado segurando o telefone em meu ouvido fora do gancho, tenho de admitir que não me dou muito bem enfrentando nada, fico paralisado e sem respostas, tentando não tremer em frente a quem quer que eu esteja, tentando não derrubar lágrimas também e com um falso sorriso. Ela perguntou novamente:
- Tem alguém ai ?
Oh, era a mesma voz dos meus sonhos que dizia: Salve Emily, que pedia para salvar sua irmã e eu teria meu pai de volta, algo que era mentira pois ele estava morto, então tudo o que eu fiz foi em um gesto mal educado desligar o telefone com ela ainda do outro lado da linha.
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Na outra manhã acordei aliviado por não sonhar com nada, crianças querem sonhar, decidi que não me encaixava neste grupo desde que sonhei com o homem morto. Assim que acordei fiz questão de checar o livro novamente, não notei nada de diferente, estava exatamente do jeito que eu deixei a noite passada. Assim que acordei minha mãe perguntou:
- Você quer sair hoje ? - Notei que ela estava mais sorridente do que o normal, isto era um pouco estranho se comparar como ela estava desde que meu pai morreu. - Podemos ir no centro de lojas e comprar algo legal para você, quem sabe até outro disco de vinil...
- Sim, claro. - Respondi rapidamente, estava infinitivamente melhor do que no outro dia, estava prestes a esquecer tudo. - Vou me arrumar...
Em pouco tempo depois de prontos estavamos lá em uma dessas lojas gigantes onde você encontra qualquer coisa, bem mais barato que em qualquer outro lugar. Ela passeava com uma cesta dessas de super mercado, pegando variados objetos, na verdade eu conhecia o truque que negócios como esses usavam, você compra milhares de produtos por serem baratos (muitos estragam em um mês), gastando muito mais e dando lucro para eles, você compra coisas que não precisa e realmente desnecessárias. Ela olhou para mim e disse:
- Eu tenho de te contar uma coisa.
- Sim ? - Eu realmente esperava que fosse algo bom, pela alegria que ela demonstrou. - O que é ?
- Eu conheci um cara. - Estranhei o modo com que ela disse isso, como se fosse uma adolescente ou até alguém de minha idade. - Ele quer te conhecer e...
- Vocês estão namorando.
- Como ?
- Vocês estão namorando. - Na verdade estava algo bastante claro pelo sorriso que ela abriu essa manhã, perguntei. - Quando vocês se conheceram ?
- Não, não estamos namorando. - Fiquei um pouco aliviado. - Conheci ele no trabalho e ele é legal, você vai gostar dele.
- É uma questão de tempo até vocês começarem a namorar.
- Vá escolher um brinquedo para você e vamos ir em outra loja. - Ela riu e eu fiquei lá encarando ela, minha mãe colocou o dedo na ponta de meu nariz e disse rindo. - Vá logo.
Eu entrei naquele corredor e fiquei procurando um que me agradasse, não um muito caro pois ela não iria querer comprar. Olhei em quase tudo e decidi pegar uma dessas arminhas de plástico que espirra água, sempre quis ter uma dessa para brincar com meus amigos, minha mãe nunca comprara uma para mim pois sabia que era como investir em um problema, porém, desta vez que ela estava alegre eu poderia convence-la. Assim que peguei o brinquedo e me preparava para voltar vi uma garota adolescente que chamou minha atenção, com uma calça jeans, uma camiseta com um cachorro da raça Pug estampado, também usava uma camisa vermelha e xadrez aberta, muito parecida com aquela deu meu livro, ela estava com uma mulher loira que aparentava ter vinte e poucos anos, parecendo aquela de meu sonho, me aproximei de ambas e disse:
- Olá...
Elas me encararam, a mais velha se abaixou e disse:
- Oi garotinho, está perdido ?
- Na verdade não. - Juntei coragem para falar. - Alguém lhe ligou ontem a noite ?
- Como assim ?
- Fui eu.